segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Era uma vez...

uma folha no cimo de uma árvore...
Bem no cimo, no topo ela acabara de nascer, como o primeiro raio de sol que diz adeus às estrelas, foi o primeiro desenvergonhado espreguiçar da folha que acabara de aparecer no cimo da árvore...foi o primeiro olá, o primeiro ofuscar de olhos perante os fortes raios de sol, quentes, que lhes dão as boas vindas a um mundo novo... o primeiro inspiro, forte que lhe enche os pulmões...

Sentia-se viva, contente, alegre, completa por tudo o que a rodeava... pelo cheiro a uma brisa fresca, quente, húmida, seca.... não importava desde que tivesse o mesmo cheiro intenso a verde, a vida como aquele tinha... desde que a fizesse sentir com vontade de sorrir....

Num dia de tempestade... Bruta, cruel, que soprava sem parar como o lobo dos 3 porquinhos que com a ganância e fome queria tudo destruir... a folha que se agarrava com dentes e garras ao fino ramo da árvore, que com a força toda quase que não abria os olhos, viu, num momento de alivio e curiosidade, os seus iguais a voarem puxados e arrancados pelo terrível e desumano vento... completamente perdidos de si, incontrolados, às voltas e reviravoltas aleatoriamente num remoinho sem fim, eles desapareceram, gritando algo que ninguém conseguia dizer se era descontento ou alegria porque o vento era forte e gritava bem alto....

No dia seguinte a folha, enquanto descansava os seus braços, pensava o quanto seria bom voar, ter a sensação de liberdade presa nas suas mãos, poder andar as voltas e reviravoltas, abrir os braços livremente para sentir novamente o frio na cara, a fantasia do universo no olhos que choram por causa do vento, gritando sabe-se lá porquê.... uma sensação de êxtase, sublime, simples e calma que parece complicada, complexa... ter a sensação de tudo acabar e parecer que está a começar... a sentir a mudança, como se fosse um manto de tinta a cair, sem poder voltar atrás, com cores diferentes, efémeras, que no fim mantêm-se iguais.... Como seria bom ver a vida a passar pelos olhos, sentida durante o tempo que muito ou pouco caminha sempre com o mesmo passo....

Até que um dia... acordou, sobressaltada por barulhos horríveis e cheiros estranhos de fumo negro que faziam doer os seus olhos.... Do nada sentiu-se a baloiçar, andar para a frente e para trás, para um lado e para outro.. para um lado e para outro... para um lado...até que depois não foi para o outro.. a árvore caiu no chão com um corte fundo no calcanhar que lhe partida o osso... caiu...
E a folha com toda a sua força a tentar-se desprender, fugir, tentar livrar-se daquele destino que não incluía a sensação de voar... tentar que a pequena brisa a levasse dali para fora... Mas...os seus braços não eram tão fortes como pensava, a sua persistência na árvore na outra noite de tempestade não foi devia à sua força mas sim à sua juventude... ainda um criança, com fortes raízes à mãe que não a quis largar...

E lá foi ela, com lágrimas de seda, por estrada fora, presa, pensando que era o fim sem que o inicio tivesse chegado... até que entra num edifício, feio e medonho... depois de voltas e revoltas adormece, presa num cheiro hipnotizante que parece que não a deixa respirar.



No escuro acorda.... Desorientada, desnorteada, perdida de si mesmo...
Sente-se presa, numa camisa de forças, não se consegue mexer... sufocante, como uma estátua se sente... perdida, começa a desesperar... chora por não saber o que aconteceu consigo... não sabe onde está, como está e o que lhe vai acontecer.... chora....

Até que... a certa altura sente-se livre.... sente o frio nas suas costas, estranhamente maiores e os braços surpreendentemente presos, ouve novamente os gritos do vento, que furiosamente a levam para o cimo, às voltas e reviravoltas, como uma dança, uma valsa que suavemente não acaba.... no ar deixa-se estar, sentido a brisa parada e os olhos abertos para o mundo... deixa-se estar...

De repente lembra-se que estará na altura de ver... de sentir a sua cor mudar... então descansadamente, olha para si mesmo e....

distraidamente apercebe-se que está branca... tão branca que reflecte o sol que ofusca os seus olhos....

Sem perceber o porquê pergunta-se porque está a voar d
urante tanto tempo....





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